sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Arte vs Pessoas

Quando a fotografia analógica (filme) foi inventada em meados do final do século XIX as pessoas passaram a tratá-la como o "retrato fiel da realidade", a arte que substituiria a pintura por ser mais prática. Obviamente isso assustou e causou raiva nos pintores da época. Eles não aceitavam a fotografia como arte, para eles ela era o resultado da junção de produtos químicos. Mas a Academia de Artes aceitou a fotografia como arte.

Por décadas (quase um século) a fotografia foi tratada pelas pessoas como arte e ser fotógrafo era uma profissão nobre. Tirar fotos era algo pensado, afinal, os filmes determinavam quantas fotos poderiam ser tiradas e isso mantia o nível alto da qualidade das fotos. Os retratos de famílias, de civis e soldados nas guerras, de posses de presidentes... tudo era calculado para fotografar "aquele momento", entende? Aquela foto que você olha e pode sentir o que a pessoa retratada sentia, imaginar o que ela pensava ou até a dor que a tomava. Podemos observar também fotos de nossos tataravós, bisavós, tios, o sítio da família, a primeira casa, como eram as cidades antiamente e, principalmente, podemos ver felicidade no rosto de muitas pessoas. E não era falso. Naquela época, para uma mãe, era um privilégio ter uma fotografia com seus filhos ou marido. Naquela época, as pessoas ainda mantinham a idéia da fotografia como arte na mente.

No final dos anos 70 e começo dos anos 80, foi inventada a câmera digital, velha conhecida da atual geração. Com ela veio uma praticidade ainda maior de tirar fotografias. Você tira, vê como ficou na tela embutida e se gostou guarda, se não gostou apaga e tira outra. Simples. Mas foi esta praticidade que trouxe a câmera digital à banalização da qual ela se tornou hoje.

Não posso falar mal dessa tecnologia, pois eu sou a favor de quase todo tipo de tecnologia. Inclusive eu, como quase a maioria da humanidade, tenho uma câmera digital. As famílias adoraram, pois agora era possível tirar fotos sem um custo alto de cada passo dos filhos, registrando desde o nascimento até a adolescência para depois mostrar-lhes como eles evoluíram. E para os adolescentes é possível apagar as fotos na qual eles "ficaram feios" ou tem espinhas à mostra. Para cada lugar que eles vão, levam a câmera e registram todos os momentos com os amigos, onde vão, com quem, o que fizeram, tudo.

Eu não condeno esse tipo de prática, realmente é maravilhoso poder ter uma câmera na mão para registrar coisas que duram apenas segundos e merecem ser guardadas. O que acontece é que a fotografia como arte foi deixada de lado e foi criada uma linguagem visual totalmente nova e despretensiosa. Talvez a geração atual nem saiba que um dia a fotografia foi considerada uma arte. A maioria das pessoas não pensam que talvez apenas um olhar diferente para o mesmo clique que ela deu, possa modificar a mensagem da foto tirada e elevá-la à outro nível, dando uma recordação totalmente diferente e mais profunda ao específico momento.

Afinal, para mim, uma fotografia é algo que eu vá olhar daqui uns anos e querer sentir o mesmo que senti ao tirar aquela foto.

Isso tudo por causa a minha monografia. Eu me entrego demais à certas coisas. Por um lado é bom, por outro não.

Um comentário:

minofez disse...

bom, isso é um sentimento que eu compartilho com você, acho que a banalização da fotografia se tornou sim algo a ser pensado, hoje as pessoas não pensam mais no que deve ser comunicado com a imagem, é simplesmente um representação visual de algo, me soa a algo sem alma, sem vida, o que o futuro nos reserva não o sei, mas espero que as pessoas possam dar mais valores no que elas fazem, e não somente fazer por fazer.

te amo meu anjo, meu tudão